Há dois movimentos atuais que indicam que essa diferença pode diminuir. O pastor evangélico Paulo Marcelo Shallenberg declarou apoio a Lula e mexeu nas estruturas, provocando reações de setores influentes da igreja evangélica. O ministério do Belém da Assembleia de Deus compartilhou uma nota pública afirmando que o pastor não pertence a seu ministério, e teve apoio de Silas Malafaia, pastor da Assembleia de Deus Vitória em Cristo. "O mesmo não nos representa", afirmava o texto desta sexta (18).
A Assembleia de Deus teve pressa em desvincular o pastor Paulo Marcelo de suas igrejas. "A Assembleia de Deus é a principal denominação evangélica do país, mas não é uma igreja única, e sim um conjunto de igrejas aglomeradas em dezenas de ministérios e convenções. Apesar de heterogênea, estava politicamente alinhada de forma praticamente unânime com Bolsonaro. Não está mais", explicou Vinicius do Valle, doutor e mestre em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (USP) e autor de Entre a Religião e o Lulismo (editora Recriar), em artigo publicado no "Observatório evangélico".
"Paulo Marcelo é o primeiro pastor de relevância nacional da instituição a sinalizar o apoio ao PT. Mas como ele há outros, de outros ministérios e convenções que já sinalizam, no mínimo, abertura ao diálogo com o líder petista", afirmou. O pastor terá justamente a missão de articular uma aproximação entre evangélicos e o pré-candidato petista.
Há terreno a ser conquistado pelo PT entre os evangélicos. A realidade gerada nestes anos de governo Bolsonaro se impôs, sobretudo entre os mais vulneráveis. O discurso de defesa da família e as "pautas de costumes" que ajudaram Jair Bolsonaro (PL) a chegar ao Palácio do Planalto já não são suficientes para manter essa parcela de eleitores. O presidente do Brasil conseguiu, com sua péssima gestão do país, com a absurda negação da gravidade da pandemia, afastar também esse público.
A pesquisa CNT/MDA mostra que para 93,2% dos eleitores os preços no supermercado "aumentaram muito". Não há brasileiro que não tenha notado, no bolso e na mesa, a inflação sobre os alimentos. Esse quadro aumenta a vulnerabilidade social, a fome e a miséria. O eleitorado sabe que Bolsonaro e seus ministros não têm aptidão para mitigar esse problema ou gerar empregos. Nem o Auxílio Brasil foi capaz de diminuir a alta rejeição do presidente, apesar de amenizar a crise.
Até entre os evangélicos a avaliação "ruim/péssimo" do trabalho do presidente vem aumentando. Na pesquisa PoderData do início de fevereiro, a percepção negativa sobre Jair entre os evangélicos subiu de 39 pontos percentuais para 41. Essa tendência pode diminuir o discurso pró-Bolsonaro nas igrejas evangélicas menores, mesmo que Bolsonaro tenha ainda cerca de 44% do eleitorado, segundo a PoderData da semana passada. Ninguém quer perder fiéis.
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