Foi o Código Eleitoral promulgado em 24 de fevereiro de 1932 que autorizou as mulheres brasileiras a votar. A conquista foi resultado de quatro décadas de uma luta intensa do movimento feminista, rechaçado por grande parte da sociedade do país. Apesar de ser um direito básico de todo cidadão, na época, o voto feminino era encarado como um "absurdo" e "desafiador da família".
"Não é natural, não é equitativo, não é justo [...] O homem até hoje reservou generosamente para si o mais pesado dos deveres cívicos", disse o senador Tomás Rodrigues em 1927, durante os debates sobre o projeto de lei 102, que previa extensão do voto para mulheres. Cinco anos depois, o então presidente Getúlio Vargas dava a canetada sancionando a mudança eleitoral.
Mulheres já protestavam pelo direito ao voto desde a década de 1880, com o movimento sufragista, que se intensificou no final dos anos 1920. Como explica a pesquisadora Luciane Campos, doutoranda em história social pela UFAM (Universidade Federal do Amazonas), a resistência social ao voto feminino se organizou em várias frentes: pela imprensa, pelas instituições religiosas e pelos próprios parlamentares.
"Os contrários eram a maioria. Eles usavam muito como justificativa a ideia de que seria o fim da família se a mulher entrasse na arena política e diziam que a atividade não coincidiria com a natureza supostamente frágil da mulher", aponta a pesquisadora.
Este, por exemplo, foi o argumento do então deputado Aarão Rebelo nas discussões para redigir a nova constituição de 1934, quando a consolidação do voto feminino na carta magna do país voltou ao debate: "Não quero ter a cumplicidade e o remorso de ter contribuído para a falência da bela e sagrada instituição da família, base da sociedade brasileira, alicerce da nossa nacionalidade, onde a mulher exercita seus penhores patrióticos educando e preparando as gerações futuras; não quero contribuir para a destruição do lar", afirmou o parlamentar.
Mas a conquista do direito ao voto foi apenas um primeiro passo para a inserção das mulheres em um meio dominado por homens até hoje. "Se em 2022 as mulheres ainda têm dificuldade de se candidatar ou estar na política, imagine o que as sufragistas enfrentaram. Elas ouviam que eram mulheres de vida fácil, que não tinham nada o que fazer em casa, que não tinham marido ou filhos para se preocupar."
Um dos exemplos mais emblemáticos da dificuldade que existe até hoje, segundo Prestes, é o fato de o Senado ter instalado um banheiro feminino só em 2016. "Nas eleições de 2020, de todos os vereadores eleitos, só 16% eram mulheres. De todos os prefeitos, 12% eram mulheres. Se pensarmos bem, 90 anos depois, a gente ainda está fora da política", diz a pesquisadora.
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