É a primeira vez que Putin admite que seu exército perde soldados, jovens filhos dos novos russos pós-soviéticos que, depois do Afeganistão, não querem ver seus meninos morrendo de novo. Na Rússia, as avós criam os netos, o que só endurece o jogo contra o presidente. Deter manifestantes não resulta, não vira apoio. Ajuda a criar músculos para o próximo verão.
A União Europeia, que abandonou a Ucrânia no início, criou coragem, finalmente, e garante que ainda existe e tem força. Vai suprir as necessidades de armamento da Ucrânia. E cresce a lista de "primeiras vezes". A presidente da UE, Ursula von der Leyen, garante que todos os 27 países-membros do bloco e mais alguns achegados fecharão seus espaços aéreos, isolando a Rússia pelos ares. O alemão Olaf Scholz inaugura seu mandato quebrando um paradigma sempre preocupante, aquele do que pode fazer um alemão armado. Avisou que vai fornecer misseis sting e lança-misseis aos ucranianos. Mil de um e quinhentos de outro, para começar. A Alemanha tem quase 70% do gás que consome fornecido pela Rússia. Ainda não houve cortes, mas não se sabe como isso será pago, depois das sanções Swift e a suspensão de sete grandes bancos russos.
Menos um ponto para Putin no front interno. Quem opera o sistema financeiro de lá são jovens empresários pitinistas e com ética especial, muitas vezes duvidosa. A ponto de terem mais de um terço dessa grana estocada em offshores mundo afora. Se começar a faltar dinheiro, a turma vai gritar e, talvez, reclamar das consequências das ações do líder. O exército russo é comandado por oficiais jovens. Com carreiras pela frente e ambições por todos os lados. Aí moram perigos.
Na linha da primeira vez, uma fora da Europa: o velho aliado Cazaquistão, de maioria étnica russa, não declarou apoio nem mandou um cartucho. Sobrou a vizinha Bielorrússia e seu dinossauro presidente Lukashenko. Está tão fechado com Putin que corre o risco de ver anexado o país dele. É tudo o que gostaria, mas muito pouco para Putin, um líder que dormiu sonhando ser Napoleão e está acordando na condição de maior pária russo dos tempos modernos. Essa pode ser outra "primeira vez". Nem os czares opressores, nem Lenin, nem o duro Stálin. Só Putin. Outro ponto a menos.