O cara chama Davi. Além do nome bíblico e mítico, carrega no corpo o estereótipo de várias minorias. É pobre e preto. Foi camelô de muitas camelagens. No Brasil onde mulheres de 35 anos são chamadas de velhas, Davi, com seus 20 anos, é casado com uma mulher de mais de 40.
Ainda na ralação, é motorista de aplicativo – “empreendedor” uberista. Também é baiano legitimo de irresistível sotaque. Sonha ser médico.
Virou namoradinho do Brasil, candidatíssimo a vencedor do Big Brother Brasil – o BBB, exibido desde que o mundo é mundo pela TV Globo. Feito o Corinthians ou o Flamengo, o BBB e, agora, o Davi provocam sentimentos de amor e ódio.
O programa dura 90 dias. Já passou da metade e Davi, apesar de não ser exatamente santo, segue franco favorito ao prêmio, previsto pra mais de 3 milhões de reais.
O Brasil, a gente sabe, adora um Macunaíma, “o herói sem caráter”, imortalizado no texto genial de Mario de Andrade e no filme sensacional do diretor (já falecido) Joaquim Pedro de Andrade. (Se não leu, nem viu o filme, leia, veja).
Davi é o Macunaíma do programa. Navegando entre brancas e brancos privilegiados de sempre – também entre pretos e pretas -, sem cerimônia, , ressuscitou o gosto-de-levar-vantagem-em-tudo*.
Em nome do jogo (“seu” jogo, frisa sempre!) faz barbaridades. Entrega parceiros fieis, falseia verdades. Na cara de pau, até pressionou a parceira Beatriz para ceder a liderança, que disputava ferrenhamente com ele. Inteligente e safo, Davi também agride e provoca agressões. A maioria delas no ao vivo, quando a TV aberta exibe o programa sem edição. Coragem ou estratégia de exibir coragem? Vai saber.
No jogo onde todos atuam uns contra os outros, Davi, menino ainda, sabe usar a seu favor todas as derrapadas dos companheiros. Transformou uma encostada – proposital, é verdade, mas também fraca – da colega de elenco Wanessa Camargo, que estava tri-bêbada, numa “tapa” forte e foi ao Confessionário** pedir providências. A colega, cantora e filha do pouco simpático Zezé de Camargo, foi expulsa do programa.
Nada santo, a cada semana, Davi escolhe o Golias a ser enfrentado. Tem vencido todos. No jogo, como os outros, ofende, grita, debocha, provoca com palavrões e palavras fortes, forçando pra recebê-las de volta. Em contrapartida, cozinha, lava e limpa a casa. Tem rotina. Depois das baixarias, faz fantásticos cafés da manhã, de mesas perfeitas. Para todos.
Na segunda feira, 11, depois duro embate com a adversária Leidy Elin, trancista, preta e brava, teve todas as suas roupas jogadas na piscina por ela. “Diz que eu sou baixa. Agora, vou ser subterrânea”, berrou a enfurecida colega.
Davi riu, jurou vingança. Depois chorou. Às vezes, chora.
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