No dia 12 de maio, tarde de uma sexta-feira, as dependências do Palácio dos Despachos, sede do governo do Pará, em Belém, foram tomadas por uma turba de prefeitos indignados. A reunião na casa oficial, convocada pelo governador Helder Barbalho (MDB), contava com os chefes dos 20 municípios com as mais altas taxas de desmatamento do Pará. Entre os convidados circulavam, ainda, fazendeiros encrencados com a fiscalização ambiental.
Helder chegou atrasado. Desceu de um jatinho e seguiu direto para a sede do governo, onde o grupo o aguardava para uma conversa com os protagonistas do encontro: a cúpula do Ibama. Antes de fecharem as portas, cada convidado foi orientado a entregar o celular, uma garantia de que nada seria registrado. Deu-se, então, a lavação de roupa suja
Este encontro sem registros oficiais descreve o fio da navalha que Helder Zahluth Barbalho tem percorrido, nos últimos anos, para tentar fazer de sua gestão um exemplo de sustentabilidade ambiental — e, ao mesmo tempo, passaporte de seu futuro político.
Helder vai estar em Dubai nesta semana para a COP 28, a Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, onde vai tratar de temas como financiamento e transição para uma economia de baixo carbono. A ambição do governador é se converter em uma liderança política do tema. Nessa transição verde, porém, ele tenta se equilibrar entre a defesa da floresta em pé e os interesses econômicos que devastam a Amazônia
Foi esse o esforço que se viu na reunião de maio, quando representantes do Ibama foram pressionados a afrouxar fiscalizações ambientais no Pará. Fazia apenas um mês que a Operação Retomada havia começado e o Ibama já tinha apreendido 3.000 bois em Pacajá, além de ter embargado mais de 25 mil hectares de terras
Com falas incisivas e de tom ofensivo, os prefeitos e fazendeiros presentes pediram que fossem revistas as autuações. Só em rebanho bloqueado, a conta chegava a R$ 10 milhões
Sob pressão, os servidores do Ibama argumentavam que os fiscais estavam, apenas, cumprindo a lei. No fogo cruzado, Helder Barbalho mediava a conversa. Se a temperatura subia demais, fazia alguma ponderação para recalibrar os ânimos
O governador sinalizava que dividia as mesmas preocupações dos prefeitos. Porém, nos bastidores, ele já tinha feito chegar aos membros do Ibama a orientação de que eles estavam ali para apanhar mesmo, mas que absorvessem o impacto e, depois, tocassem seu trabalho.
Ao fim da discussão, prefeitos e fazendeiros regressaram para seus municípios certos de que o recado fora dado, com o apoio e a chancela do governador. Do lado do órgão ambiental, os servidores voltaram para casa com as orelhas quentes, mas cientes de que as fiscalizações continuariam — o que se confirmou nos meses seguintes.
Helder nunca foi um ambientalista. O filho do senador e ex-governador Jader Barbalho (MDB-PA) é, antes de mais nada, um criador de boi — atividade apontada como a maior responsável pelo desmatamento na Amazônia. Com um patrimônio declarado de R$ 18,7 milhões, Helder é dono de um rebanho de mais de 6.000 cabeças.
Helder cresceu em uma época em que reinava o discurso de que o futuro da Amazônia passaria pela abertura de estradas, exploração de minérios, criação de gado, ampliação de plantações e construção de hidrelétricas. Nesse sentido, ele apoia dezenas de projetos criticados por ambientalistas.
Fonte _ Repórter Brasil
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