As crises de ansiedade e pânico de Gisele Ulbrich começaram na pandemia, após ser demitida de uma empresa de monitoramento de cartões de crédito. Com o seguro-desemprego, a renda caiu pela metade e as contas atrasadas viraram uma bola de neve. Passou meses trancada em casa, sem conseguir dormir, até decidir procurar um médico. Há pouco mais de um ano, faz acompanhamento psiquiátrico quinzenal, com medicação, pelo Sistema Único de Saúde. Desde então, só dorme à base de remédios.
“Vivo na corda bamba, sem saber se vou ter dinheiro no mês seguinte para pagar água, luz, aluguel. não tem como a cabeça ficar bem nessa situação”, conta Ulbrich, que hoje, aos 41 anos, trabalha como cuidadora de idosos, sem carteira registrada. É também mãe solo de dois filhos que vivem com ela em uma casa no Jardim Brasil, bairro da periferia da zona norte de São Paulo: uma de 24 anos, desempregada, e outro de 21, no quinto semestre da Faculdade de enfermagem. “Quem carrega a casa nas costas sou eu”, afirma ela.
Dentre todas as áreas da vida, dinheiro é a que gera maior insatisfação para as brasileiras. E o perfil mais impactado por essa preocupação é justamente o de Ulbrich: mulheres negras e pardas, e mães solo. O dado, de um levantamento da Think Olga, ONG voltada a combater a desigualdade de gênero, surpreendeu as pesquisadoras.
“Pensamos que a sobrecarga, com as múltiplas jornadas, iria sobressair. Mas claro que a angústia pelo dinheiro estaria acentuada na vida das mulheres em um país tão desigual, com pouquíssimos recursos públicos de amparo social”, diz Maíra Liguori, diretora da ONG.
Apenas 14% das mulheres que participaram da pesquisa disseram estar satisfeitas com a situação financeira. Os sintomas na saúde mental são mais agravados nas classes D e E, nas quais isso significa inclusive insegurança alimentar.
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