O que se escrever quando se lê cada vez menos?

"Foram derrubados os muros da cidade, o Muro Alto não existia mais, escreveram livros para uns aos outros ler."
(Tenório, A menina do olho verde, p. 50)

Se você o lê, não faz parte dos 6,7 milhões de brasileiros e brasileiras que deixaram de ler nos últimos quatro anos, ou dos 53% de pessoas nascidas no país que não leem ao menos um livro ou trecho de livro por mês, segundo alerta o Instituto Pró-Livro na recente pesquisa sobre a leitura no Brasil.

E a leitura, quer seja o livro impresso – o meu preferido –, quer seja o livro digital sempre foi a minha companheira de todas as horas. Alimenta a alma, afasta a depressão, nos acompanha nos momentos solitários, aqueles em que o ser humano precisa se encontrar com sua essência para se conhecer mais e melhor e poder acrescentar na vida de outras pessoas.

Mas não me assombro com essa estatística, pois vejo cada vez mais as pessoas fugindo de si mesmas e de suas profundidades. Os seres sapiens contemporâneos se alimentam somente do que lhes causem prazer imediato, não mexa em feridas antigas, não mergulhe nos traumas que não desejam evocar, e analisar, e até mesmo curar, por ser um processo longo e doloroso. E tanto a leitura, quanto a escrita, quanto as terapias psicanalíticas nos proporcionam esse mergulho em si para poder voltar à tona de maneira maior e melhor.

Recentemente voltei a ler 21 lições para o século 21, do escritor e professor da Universidade Hebraica de Jerusalém, Yuval Noah Harari. Ele afirma que precisamos nos reinventar constantemente para sobrevivermos no mercado de trabalho do futuro. E como faremos isso, brasileiras e brasileiros, se não lermos mais e melhor? E vou além: como dar sentido às nossas vidas se não mergulharmos em nós mesmos através da leitura, da escrita, do conhecimento próprio?



Patricia Gonçalves Tenório
Escritora


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