Apenas dois dos 26 estados brasileiros e do Distrito Federal serão governados por mulheres a partir de 2023. Saíram vitoriosas das urnas a petista Fátima Bezerra, que venceu, no primeiro turno, com 58,3% dos votos no Rio Grande do Norte; e Raquel Lyra (PSDB), que superou, no segundo turno, Marília Arraes (Solidariedade), com 58,7% dos votos, em Pernambuco. As duas governadoras eleitas são do Nordeste.
A vitória de apenas duas mulheres confirma a estatítisca que aponta para um abismo na representatividade entre homens e mulheres em cargos do executivo. O número tão baixo de eleitas é reflexo de percentual proporcionalmente menor de mulheres que disputaram o cargo nos estados brasileiros.
A doutora em ciência política pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e pesquisadora da Universidade de Cardiff Larissa Peixoto apresenta alguns fatores que levam à subrepresentação feminina. Um deles é a alta competitividade, dentro dos partidos, para ser candidato a cargos executivos. "Existe uma competição interna muito grande para ser candidatos a esses cargos, que tem um número de vagas muito menor do que para o legislativo", avaliou no período de campanha.
Outro fator que influencia tem relação com a idade dos postulantes às vagas dentro do partido. Os filiados sêniores costumam vencer as disputas internas nas agremiações, aspecto que coloca em desvantagem as mulheres. Em geral, elas chegam mais tarde à política partidária por razões históricas, portanto os homens costumam ter trajetória partidária mais longa. Outro ponto é a capacidade desigual entre homens e mulheres, também devido à desigualdade de gênero, para arregimentar apoios e recursos financeiros.
A pesquisadora apontou que, de maneira geral, os partidos adotaram em 2022 uma estratégia de colocar as mulheres apenas como vice nas chapas numa clara tentativa de mostrar que havia representatividade e também de receber mais recursos dos financiamentos públicos. No entanto, a pesquisadora alertou que a estratégia pode não resultar em mais representatividade na política, uma vez que há diferença de poder entre quem encabeça uma chapa e o vice.
O percentual de candidatas ao cargo de vice-governadora foi maior em comparação ao de mulheres que estavam na cabeça de chapa. Em 2014, eram 57 candidatas a vice, número que passou para 82, em 2018; e 94, neste pleito. Já para governadora, em 2014, eram 24 candidatas, número que saltou para 31, em 2018; e 38, em 2022. "Para o cargo de governadora, as candidaturas continuam poucas, mas para vice aumentaram. Os partidos fazem uso desse espaço para dizer 'olha, temos mulheres' e dizer que são progressistas", analisou Larissa.
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