Para fugir da cadeia, Bolsonaro assume fama de covarde e desequilibrado

Jair Bolsonaro estava visivelmente desconfortável, sentado no banco dos réus, diante de um Alexandre de Moraes de poucas palavras no segundo dia de interrogatório dos acusados da trama golpista na Primeira Turma do STF.

Parecia desconcertado por não poder exibir, por ordem de Moraes, uma série de vídeos que preparou na ocasião. Foi como ensaiar os passos de uma dança sem música. Distante da versão bravateira, que berra e xinga, o ex-presidente tentou manter a calma enquanto ostentava na lapela do blazer, por ironia, a medalha do Pacificador, entregue a ele em 2018 pelo Exército.

Quem esperava um confronto de capa e espada ficou decepcionado. Moraes fez as perguntas que precisava e deu campo para Bolsonaro jogar. Quando percebeu, o ex-presidente relaxou e já falava como se estivesse na Vivendas da Barra. Muitas vezes, como tantas vezes, falou nada com nada.

O ex-presidente negou (quase) todas as acusações apontadas na denúncia da PGR. Não, ele não tramou contra as eleições, não discutiu golpe de Estado, não editou minuta golpista, não defendeu prisão de ministros do Supremo, não ouviu ninguém colocar as tropas à disposição, nem ouviu ameaça de voz de prisão de qualquer general - já que nenhum absurdo foi colocado à mesa.


* *Matheus Pichonelli é jornalista e cientista social, com passagens por Folha de S.Paulo, iG, Carta Capital, Yahoo!, Intercept Brasil e UOL, além de colaborações para a revista Piauí e o jornal O Globo. Atualmente é roteirista do ICL Notícias

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