É irônico que o ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira afirme que as Forças Armadas se sentem desprestigiadas porque suas sugestões de mudanças sobre o sistema eletrônico de votação foram rejeitadas pelo Tribunal Superior Eleitoral.
Porque a população também se sente desprestigiada quando as Forças Armadas não evitam que a fronteira brasileira seja uma peneira, permitindo, por exemplo, o crime organizado no Vale do Javari, onde Bruno Araújo e Dom Phillips foram atacados, fuzilam inocentes ao invés de protege-los ou gasta dinheiro do contribuinte comprando próteses penianas.
Servindo de aríete ao presidente Jair Bolsonaro, que tenta demolir a democracia derrubando um dos seus pilares, a credibilidade das eleições, o comando das Forças Armadas usou o assento que conseguiu Comissão de Transparência das Eleições do TSE para fazer questionamentos sobre problemas que não existem.
As Forças Armadas - que não têm mandato para ser poder moderador, nem babá da República - enviaram 88 questionamentos ao Tribunal Superior Eleitoral sobre o que acreditam ser riscos do processo de votação. A maioria das perguntas dos militares está alinhada às críticas sem fundamento do presidente quanto às urnas eletrônicas.
E agora chia despropositadamente para fazer o barulho que o presidente precisa contra o tribunal - que, vale ressaltar, não é obrigado a seguir sugestões. Ainda mais as que não fazem sentido.
Bolsonaro quer que as Forças Armadas façam uma contagem paralela, o que acabaria com o sigilo do voto. Enquanto isso, há aliados do governo, no Congresso Nacional e nas redes sociais, defendendo que os militares interfiram diretamente no processo eleitoral, corrigindo o que acham que sejam falhas. Leia-se no lugar de "falhas" as garantias de que o presidente não conseguirá manipular os resultados caso eles o desagradem.
Se a cúpula das Forças Armadas dedicasse a mesma energia com a qual está encarando o ataque ao Tribunal Superior Eleitoral na fronteira Oeste da Amazônia brasileira, talvez a história do indigenista Bruno Araújo e do jornalista inglês Dom Phillips tivesse sido diferente.
Sakamoto, colunista da Uol
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